Atrações acontecem entre 16 e 30 deste mês, e incluem as mostras “Corporeidades Negras” e “Três Irmãos”, com exibição gratuita de filmes no Cine Santa Tereza
O Circuito Municipal de Cultura de Belo Horizonte dá sequência, em novembro, à programação de seu terceiro ano de atividades.
Realizado pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), em parceria com o Instituto Odeon, o projeto apresenta uma série de atrações que vão dos dias 16 a 30/11. A Sétima Arte ganha destaque neste mês, com duas mostras que acontecem no Cine Santa Tereza: a “Mostra Corporeidades Negras”, com enfoque em atores e atrizes negras pioneiros na luta pela existência de corpos plurais no cinema nacional; e a “Mostra Três Irmãos”, que relembra a trajetória de vida e de luta de três ícones da cultura brasileira, os irmãos Betinho, Henfil e Chico Mário.
Todas as exibições são gratuitas, mediante retirada prévia de ingressos pelo Disk Ingressos. Mais informações podem ser encontradas nas redes e no site do Circuito.
No Mês da Consciência Negra, quem abre a programação do Circuito Municipal de Cultura é a “Mostra Corporeidades Negras”. A iniciativa busca reverenciar baluartes do cinema nacional, que contribuíram para o pensamento em torno da subjetivação e da representação dos corpos negros no audiovisual brasileiro.
A curadoria traz filmes de diferentes épocas que relembram o trabalho de nomes como Zezé Motta, Ruth de Souza, Zózimo Bulbul, Antônio Pitanga, entre tantos outros. A mostra também presta uma homenagem especial ao ator Milton Gonçalves, pioneiro na luta por espaço para os atores negros. Falecido em 2022, aos 88 anos, o ator aparece em um dos papéis mais icônicos que representou, no filme “Rainha Diaba” (1974), do diretor Antônio Carlos da Fontoura, que ganhou vários prêmios de prestígio e menções da crítica, que será exibido em cópia digitalizada.
A “Mostra Corporeidades Negras”, que integra o Circuito Cine Santê, começa no dia 16/11, quarta-feira, às 16h30, com a exibição do curta experimental “Alma No Olho” (1973), de Zózimo Bulbul, e do documentário “A Negação do Brasil” (2000), de Joel Zito Araújo.
Já no dia 17/11, quinta, no mesmo horário, é a vez do projeto exibir um clássico do cinema brasileiro: a comédia “Macunaíma” (1969), dirigida por Joaquim Pedro de Andrade e livremente inspirada no livro homônimo de Mário de Andrade. O longa narra a história de Macunaíma (interpretado pelo icônico Grande Otelo), um herói preguiçoso, safado e sem caráter. O personagem – que nasce na selva, preto, e depois vira branco – deixa o sertão em companhia dos irmãos ao tornar-se adulto. Na cidade, Macunaíma vive várias aventuras, conhecendo e amando guerrilheiras e prostitutas, enfrentando vilões milionários, policiais e personagens pitorescos de todos os tipos.
A mostra continua na sexta-feira, 18/11, com duas atrações. Às 16h30, acontece a exibição do icônico “Eles Não Usam Black-tie” (1981), drama dirigido por Leon Hirszman, que conta as desventuras da turbulenta vida do operário Tião. Já às 19h, o Circuito Cine Santê traz a sessão comentada do filme “A Rainha Diaba”, dirigido por Antonio Carlos da Fontoura, com roteiro de Plínio Marcos. A trama é protagonizada por Diaba (vivido pelo homenageado Milton Gonçalves), um homossexual que comanda, de um bordel, uma quadrilha responsável por controlar vários “pontos” de venda de droga no Rio de Janeiro. O personagem é livremente inspirado no criminoso carioca João Francisco dos Santos, conhecido como, conhecido como Madame Satã, que marcou a noite da Lapa, no Rio, na primeira metade do Século XX. A sessão será comentada pelas pesquisadoras Soraya Martins e Tatiana Carvalho.
No dia 19/11, sábado, às 19h, a “Mostra Corporeidades Negras” exibe o mini-documentário “Carolina” (2003), de Jeferson De, e o longa “Filhas do Vento” (2004), drama assinado pelo diretor Joel Zito Araújo. Já no domingo, 20/11, às 18h30, o evento traz mais um filme dirigido pelo carioca Zózimo Bulbul, um dos maiores expoentes da cinematografia afro-brasileira das décadas de 60 e 70. Desta vez, o Circuito Cine Santê apresenta o documentário “Abolição” (1988), que aborda a vida do negro no Brasil ,tratando de aspectos sociais, históricos e culturais. O longa, que marcou uma geração, reúne declarações de grandes figuras públicas e de cidadãos brasileiros.
Dois curtas-metragens contemporâneos compõem a programação da mostra no dia 23/11, quarta-feira, às 16h30. Trata-se de dois filmes do diretor Fábio Rodrigues Filho: “Tudo que é apertado Rasga” (2019), e “Não vim no mundo para ser pedra” (2021), que traz Grande Otelo, por recortes, propondo um “samba sobre o infinito” que altera ordens e fatores do cotidiano. Na quinta, 24/11, também às 16h30, o projeto traz outro filme emblemático do cinema brasileiro: a comédia “Xica da Silva” (1976), de Cacá Diegues. O longa narra de forma bem-humorada a trajetória da escrava que se tornou a primeira dama negra do Brasil, seduzindo o milionário contratador de diamantes, João Fernandes de Oliveira. Promovendo luxuosas festas e banquetes e exibindo grupos de teatro europeu que se apresentavam nas salas de sua imensa casa, Xica da Silva ficou conhecida até na corte portuguesa.
Fechando a programação, no dia 30/11, quarta-feira, a “Mostra Corporeidades Negras” traz outras duas produções nacionais. Às 16h30, será exibido “Couro de Gato” (1960), de Joaquim Pedro de Andrade, curto episódio do longa-metragem “Cinco Vezes Favelas”, drama lançado pelo diretor em 1963. Na sequência, é a vez de “Barravento” (1959), do célebre diretor baiano Glauber Rocha. O filme que encerra a mostra com honraria conta a história acompanha um negro educado que volta à aldeia de pescadores em que foi criado para tentar livrar seu povo do domínio da religião e crenças antigas.
Também no dia 30/11, o Circuito Cine Santê celebra o Mês da Consciência Negra com uma sessão especial em homenagem ao artista mineiro Maurino de Araújo. Falecido em 2020, aos 77 anos, vítima da Covid-19, o pintor e escultor barroco deixou um importante legado nas artes plásticas de Belo Horizonte.
Às 19h, serão exibidos dois filmes dedicados à vida e à obra de Maurino de Araújo: “Maurino Dança” (2018), de Veronica Manevy e Marcelo Sant’Ana, mini-documentário que traz depoimentos livres do artista; e “Nas Minhas Mãos Não Quero Pregos” (2012), de Cris Ventura, que acompanha as andanças de Maurino pelo Bairro Primeiro de Maio, em BH, onde morou por mais de 30 anos
A outra atração de cinema que marca o Circuito Municipal de Cultura em novembro é a “Mostra Três Irmãos”, com filmes dedicados à história dos irmãos Betinho, Henfil e Chico Mário, que serão exibidos entre os dias 22 e 25. A mostra, que também integra o Circuito Cine Santê, convida o espectador a mergulhar na própria história política, social e cultural de um Brasil recente, evidenciando a contribuição de cada um deles diante das principais transformações vividas pelo povo brasileiro. Betinho era cientista social, foi exilado político durante a ditadura militar e mais tarde fundou a Campanha Contra a Fome e a Miséria e Pela Vida, tendo sido indicado, em 1994, ao “Prêmio Nobel da Paz”. Henfil era cartunista e lutou pela volta dos exilados durante a ditadura militar, sendo responsável por criar a expressão “Diretas Já” como forma de exigir a volta da democracia ao Brasil. Músico, Chico Mário foi pioneiro na criação da música independente e compôs inúmeras canções contra a tortura. Todos os três eram hemofílicos e expressaram, por seus atos, uma luta constante e incansável pela vida.
A mostra, que recebe nome em referência ao filme “Três Irmãos de Sangue” (Ângela Patrícia Reiniger, 2006), será aberta com o documentário dedicado à obra do músico Chico Mário (1948-1988). Dirigido por Silvio Tendler e idealizado pelo compositor de trilhas Marcos Souza, filho de Chico Mário, o longa “Chico Mário – A Melodia da Liberdade” (2019) será exibido no dia 22/11, terça-feira, às 19h. Após o filme, haverá um debate com Marcos Souza e Karina Souza, que formam a Cia Mano a Mana, além de possíveis surpresas na plateia. Inclusive, do violonista alemão Michael Rein, de passagem por BH.
Na quarta, 23/11, às 19h, serão exibidos dois documentários: “Cartas da Mãe” (Fernando Kinas, 2003), uma crônica sobre o Brasil dos últimos 30 anos contada através das cartas que Henfil (1944-1988) escreveu para sua mãe, Dona Maria, ao longo da vida; e “Henfil” (Angela Zoé, 2017), que relembra a trajetória do cartunista por meio de entrevistas e depoimentos.
Já no dia 24/11, quinta-feira, às 19h, é a vez do documentário “Betinho – A Esperança Equilibrista” (Victor Lopes, 2015). O longa conta a história do sociólogo e ativista Herbert de Souza (1935-1997), o Betinho, que tinha a saúde frágil, mas a força dos grandes idealistas. Com depoimentos, entrevistas e registros históricos, o documentário mostra como Betinho lutou contra as injustiças e a favor da vida, liderando movimentos sociais que mobilizaram milhões de brasileiros a ajudar a mudar o rumo do país.
Encerrando a mostra, na sexta-feira, dia 25/11, também às 19h, será exibido o icônico “Três irmãos de Sangue” (2006), documentário de Ângela Patrícia Reiniger que mostra como a vida e as lutas de Betinho, Henfil e Chico Mário se misturam com a história política, social e cultural do Brasil na segunda metade do Século XX.